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Outubro, 1995
0 factotum Serjão
A periodicidade mensal da Gazeta tende a deixar a gente na mão quanto à atualidade dos fatos. No instante, porém, em que esta nota é redigida, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, homem em muitas frentes superdotado, presta-se ao ridículo papel de pugnar pela reeleição do presidente . Ora, todo mundo sabe que a aprovação da emenda é inviável e, sobretudo, inoportuna sua colocação agora, a quatro anos das eleições, porque interfere prejudicialmente no andamento das reformas, as quais a gente supunha que o governo julgasse importantes. Agora vemos que não é bem assim: importante é reeleição ...
Herança do Chalaça
Vem da República Velha esse grotesco servilismo palaciano. Mal um presidente é empossado, surge à boca de cena o cajoleur de plantão defendendo a permanência do chefinho. No caso do atual governo, um casuísmo totalmente injustificável, por envolver pessoas respeitáveis de um governo que se pretende sério. É claro que Fernando Henrique foi uma boa escolha do eleitorado e está popular. Mas não seria um gesto de irresponsabilidade pública submeter a Constituição à prova só para massagear-lhe o ego?
Imagine se depois de Fernando Henrique vem a mulher do Zé Rainha, encarcerada pelo desaviso de um Mandado Judicial que certamente fará dela deputada federal.
O espaço da província
Deixa pra lá. Foco na província. A história exige que órgãos como a Gazeta de Leopoldina assumam compromisso mínimo com fatos locais. Não fossem, por exemplo, os registros provincianos do antigo jornal "O Leopoldinense", minuciosamente levantados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro pelo historiador, Wander José Neder, não teríamos hoje mapeamento e dados completos da viagem de Dom Pedro II a Leopoldina, no dia 30 de abril de 1881. Visita, aliás, que não teria sido a primeira, mas a segunda, de S.M. Imperial ao município. Quem tiver a curiosidade de conferir, tente encontrar o número-6, do jornalzinho "Reencontro", dos ex-alunos do Colégio Leopoldinense, com edições infelizmente suspensas por falta de patrocínio.
Aliás, o “Reencontro" anda à cata de Mecenas que o devolva às rotativas. Se aparecer ganha um afetuoso diminutivo. Sendo José, vira Zezinho, se for Antonio, vira Tunico.
Rico pródigo é assim: sempre exposto a diminutivos.
Vem mais, vem mais... Bateeeu!
Os oitis das ruas de Leopoldina, com poda retangular; tornaram-se marca registrada da cidade e, portanto, um padrão estético digno de especial atenção. É evidente que a composição retilínea do nosso arvoredo - independente de considerações quanto ao seu bom gosto - integrou-se, de forma indelével, à memória da cidade.
Em algumas ruas, compreensivelmente, o replantio anda meio preterido por obras mais urgentes, prioritárias. Em outras, no centro, os caminhões-baú, nas manobras de entrega ao comércio, agridem impiedosamente o tradicional ornamento. Há dias, um poderoso baú-mercedão-trucado, de conhecida loja de eletrodomésticos de Juiz de Fora, estraçalhava galhos na Cotegipe.
Veículo pesado em rua central é estorvo que danifica também calçamento e redes de serviços públicos.
Legislar sobre trânsito é competência da União, mas impor respeito ao patrimônio municipal, se for o caso, com espessura na multa, é por aqui mesmo, ô parente!
Tá barato, parente
Interessante esse uso do parente em Leopoldina, por algumas pessoas, principalmente no comércio. O hábito paroquial funciona como uma espécie de vocatico, igual ao chê dos gaúchos.
É um achado simpático e valeria a pena especular sobre a origem da coisa. Para mim, pode ter começado no antigo armazém do Joaquim de Oliveira, na esquina da Rua das Flores com Rua João Neto. Eu era criança e ficava intrigado quando o Joaquim e seus balconistas chamavam de parente a todos que entravam lá.
Shakespeare, e a tragédia tupiniquim
Para irritar nosso articulista José Geraldo Soares que tem lá um justo pé atrás com o Bacen, Gustavo Loyola, mui digno presidente da autarquia, acaba de dizer, em entrevista publicada n' O GLOBO de 10.11.95, que é obrigação do Governo socorrer (a fundo perdido) os bancos privados, para preservar a confiabilidade do sistema ...
A gente que é índio vestibulando nessa aldeia de caciques PHD, perde duas luas rasurando o cérebro no silogismo:
a) no caso, então, de banco privado falido estatiza-se o prejuízo (Isto é, o povo paga para os Calmons de Sá não desestabilizarem o sistema financeiro com suas remessas a paraísos fiscais);
b) já no caso da Vale do Rio Doce; Petrobrás, Belgo-Mineira, Banco do Brasil, etc., padrões gerenciais que dão lucro e detêm patrimônio de expressão planetária, privatiza-se o lucro (e todo o ativo) à guisa de gentil presente ao inquilinato do poder, e... na contrapartida de moedas podres! ...
- "Apesar de ser loucura, revela método" - diria Polônio, no Hamlet.
Os governos passam, o BB fica
Enquanto as bolsas brasileiras despencam na corda arrebentada dos bancos privados, o Banco do Brasil assina acordos de cooperação interbancária com a Rússia e países do Leste Europeu. A assinatura do documento pelo diretor da Área Internacional, aos 14.11.95, abre as portas do mercado financeiro russo - e de sua extensa área de influência - ao Banco do Brasil, provando ser esta uma instituição que se amolda e se supera. Sempre, aliás, se soube na administração do Banco do Brasil, que o fim da inflação mensal de dois dígitos prejudicaria mais a concorrência, porque o BB sempre preservou a tradição e o know how do investimento em atividades produtivas.
Todo o poder ao Bacen
Medida Provisória baixada pelo Governo em 17.11.95, permite ao Banco Central: a) intervir nos bancos em dificuldade; b) desapropriar as ações e transferir seu controle acionário a terceiros; c) afastar a diretoria e vender bens pessoais dos proprietários dos bancos; d) considerar os sócios controladores particularmente responsáveis (inclusive com bens pessoais) nas encrencas do banco.
Do ponto de vista dos depositantes e dos credores, é perfeito. Na idiossincrasia do banqueiro, entretanto, a tranqüilidade deles talvez venha a depender: a) de um divórcio, com todos os bens em nome dos filhos; b) de uma lobotomia que remove, nele, aquela parte do cérebro onde reside a noção do perigo e o medo de cadeia; c) de que todo o seu capital, aplicado no negócio, seja objeto de roubo ou furto...
À posteridade
Quem vier a ler esta Gazeta, daqui a uns duzentos anos saiba que outubro de 1995 tem sido de boas chuvas na região, de recuperação das pastagens após alguns meses de estio, e de bastante dificuldade no comércio, sobretudo pela escassez do crédito. O povo, entretanto, vai bem melhor do que sempre: o litro de leite vale dezoito centavos para o produtor (já esteve bem pior); um frango, ao consumidor, menos que um real; e os flanelinhas ganham até cinco reais para lavar um carro!
O compositor, Renato Russo, pergunta numa canção: - Que país é este?...
Realmente, não deve existir outro lugar neste mundo esférico onde alguém possa comer frango a semana toda só porque lavou um carro.
Teremos manga, em dezembro.
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(Publicada na Gazeta de Leopoldina de outubro de 1995)
domingo, 15 de maio de 2011
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Olá!
ResponderExcluirMeu nome, Mauro Lucio Carvalho, nascido em Laranjal e criado desde pequeno em Leopoldina, morando atualmente no Rio de Janeiro, gostaria de pedir sua ajuda para ver se consigo algumas edições do jornal que circulava e cobria o campeonato da cidade em 1974,
Meu e-mail: mauroluciomg@hotmail.com
Meu Celular: (21) 6902-5469
Agradeço e aguardo seu retorno.
Atenciosamente,
Mauro Lucio.
Mauro Lúcio,
ResponderExcluiracretido que o jornal onde você poderá encontrar o que deseja será a "Gazeta de Leopoldina", na suposição de que ela haja circulado em 1974. A última noticia que temos dos arquivos da velha Gazeta, entretanto, é que eles se acham em Cataguases, na sede da Energisa.
Boa sorte.