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Segue tua nova estrada,
Ungido sanfoneiro!
Da banda do norte já relampeja saudade.
Dos altos e baixos da tua sanfona.
Nos longe-longe deste país,
Nas muitas léguas do teu sertão do Exu
Ardemos teus irmãos neste braseiro dos que perdemos Luiz.
Guarda contigo nosso coração,
Que guardaremos nós, de um menino da margem da BR-4,
O queloide indelével, o sinal de nascença,
Dos versos da Asa Branca
Que a gente simples deste país, que tem a tua cara,
aprendeu num rádio Philco ou nas buzinas de teclado
Dos caminhões Pau-de-Arara.
Vinha a toada maviosa num crescendo
Buchuda de poeira e sertão,
Um lamento de oito baixos
A se embrenhar na plantação
Calando as gentes e os bichos,
De perguntar-se a Deus do céu
Por que tão grande era a canção.
Hino de glória e louvor ao retirante
Devoto do padim, padim Ciço
E do venerável “Deus Lua”.
O canto dos arribados,
Que já não tinham boiada,
Desistidos das charnecas
Na ressequida estiada.
Severinos retirantes,
Violeiros Aderaldos...
Cavaleiros apeados,
Barranqueiros, pajeús,
O nordeste e seu matiz,
Conteúdos genuínos
De um caminhão e um país.
E nesse Brasil em lágrimas
Que hoje verte um Orós
Pro filho de Januário,
Pelo seu Rei do Baião,
Somos quem a dor irmana,
Deserdados para sempre
Do fole de uma sanfona.
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(2 de agosto de 1989)
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