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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

E agora, José?

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A oposição precisava, com urgência, de um fato com que tentar mudar o jogo diante do surpreendente avanço da candidata Dilma nas pesquisas. Por um momento pareceu que o oportuno escândalo da quebra de sigilos na Receita Federal renderia dividendos. Evidências de ação criminosa de petistas “aloprados” no imbróglio eram reais e o filão prometia.

Infelizmente, parece que a agulha se revelará fina demais para romper o duro casco da tartaruga lulista. O povo não dá sinais de reagir ao que vê. Na verdade o povo não está entendendo lhufas, não está nem aí pra essa história enrolada de sigilo quebrado.

Neste país – ó meu fortuito e heróico leitor – pouca gente além de nós dois tem noção do que representem valores como privacidade e sigilo fiscal. São abstrações que escapam ao imaginário popular.

Não é pro bico de qualquer um avaliar a natureza e a extensão do dano causado por uma quebra de sigilo fiscal. Mais complicado ainda seria esse mesmo indivíduo colocar em prática valores éticos – hauridos lá longe, na escola ou no berço - para, uma vez entendida a transgressão, vir a posicionar-se contra ela.

Falta ao nosso Brasil brasileiro lucidez para julgar situações minimamente complexas. Estamos ainda a uma boa distância daquele eleitor sujeito da história, com visão do entorno social em que vive, com noção da amplitude e da repercussão dos fatos.

Nossa realidade é de uma cidadania manipulável pelo estômago e pelos sonhos de consumo, na qual os apelos classistas mais primitivos, como oposição dos interesses dos pobres aos interesses dos ricos, ainda repercutem positivamente com retorno eleitoral bobalhão.

Que ninguém se assuste ao ouvir manifestações positivas à violação sistemática do sigilo bancário e fiscal dos ricos, como justo antídoto a que “os bacanos não tenham como esconder dinheiro roubado”... Garantia ao sigilo bancário e fiscal, para significativo contingente da população brasileira, não passa de mero expediente de acobertar falcatruas.

Por essas e por outras, quando o PSDB põe a boca no mundo para verberar a quebra de sigilo fiscal de seus caciques, realizada por aloprado (autorizados ou desautorizados), pode estar apenas atirando para o alto. Não vai acertar ninguém e o barulho faz vibrar tão somente suas próprias janelas. O Lula investiu pesado no social e manobra, hoje, com a quase unanimidade do eleitorado brasileiro.

É uma situação delicada esta a que chegou a oposição brasileira, com o Serra. Precisa convencer o povo de que está tudo errado, mas com o cuidado de não desagradar este mesmo povo dizendo que está tudo errado...

Cabe a perplexidade do poeta itabirano:
- E agora, José?
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(Publicada aos 09.09.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

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