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Julho, 2009
“Reputação! Reputação! Reputação! A minha está perdida!
O que em mim era imortal, lá se foi. Resta-me apenas a parte animal.”
(Shakespeare, Otelo, Ato II)
Se acharem que é exagero, desculpem-me. Nós, mineiros, temos boas razões cívicas para nos orgulharmos da reputação de nossos políticos. Não exatamente que os homens públicos de Minas sejam santos. Não é bem assim. Falo de uma certa característica inerente a eles. A de que o político mineiro usa desconfiômetro, tem mais recato, mais pudor.
Quase arrisco falar em “mais berço”. Mas aí levaria a questão para o campo emotivo, pronto a eriçar suscetibilidades. Fico no terreno da compostura pessoal do ambiente para afirmar que nenhum político mineiro se agarraria a um cargo público nas condições vexatórias em que nele se agarrou Renan Calheiros e se agarra José Sarney.
Sou mineiro há mais de meio século. Tenho certeza que o político mineiro que fizer coisa semelhante perderá a quase totalidade de seu eleitorado. Perderá ambiente social, talvez perca ambiente familiar.
Querem um exemplo? Corram os olhos pela relação dos políticos mineiros em voga no âmbito federal, hoje. Tentem apontar-me ao menos um que, a seu ver, seja capaz de protagonizar os episódios deploráveis que presenciamos no Senado ultimamente.
Se apressadamente alguém me apontar o nome mais óbvio da infelicidade mineira, eu talvez lhe lembre que aquela criatura não nasceu em Minas. Vindo um segundo nome, de memória mais recente, cuja ridícula estultícia lhe valeu presença destacada na mídia (e no anedotário) nacional, direi que tal cidadão já não se elege vereador na pequena cidade onde alardeou patifaria camuflada de sucesso empresarial.
Parece prevalecer em Minas um teto ético não escrito. Sabedoria prudente, folclórica, tipo Tancredo, Benedito, Juscelino, Milton Campos, Itamar, Magalhães Pinto, Pedro Aleixo, José Maria Alkmin, vale. Velhacaria, não. Por isto ouso afirmar que em Minas jamais se sustentariam políticos com o perfil inconseqüente desses dois. Aos eleitores mineiros eles deveriam explicações que sabem não dever a seus eleitores do norte e do nordeste. Esta é a questão.
Se mineiros fossem teriam renunciado na véspera para salvar o mandato e a reputação. Como não nasceram em Minas vale a aposta, por tempo indeterminado, numa “saída honrosa” até a véspera do defenestramento forçado. Depois, os eleitores resolvem...
Não é por acaso que o IBGE encontrou no Maranhão de Sarney, em 1996, o maior percentual de Analfabetos Funcionais do país: 56,6% da população; nas Alagoas de Renan, o terceiro maior contingente de iletrados do país: 52,2% da população. Só ganha do Piauí, o segundo, com 54,6%. (Conferir em: http://www.oei.es/quipu/brasil/estadisticas/analfabetismo2003.pdf)
Imaginem! Cinco representações no Conselho de Ética do Senado e a pessoa continua sorrindo para as câmeras da nacionalidade! Aparelhamento administrativo do Senado, atos secretos, nomeação de parentes, ocultação de imóvel milionário à Justiça Eleitoral, desvio de dinheiro de Fundação... Tudo intriga da oposição!
Acho que sou justo quando digo que os de Minas são diferentes. Se não for, azar. De ilusão também se vive.
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(Publicado em 30.07.2009 http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
quinta-feira, 30 de julho de 2009
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