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"Época triste é a nossa em que é mais difícil
quebrar um preconceito do que um átomo.” (Einstein)
O jornal Estado de Minas, de18 de junho publicou – com toda certeza outros jornais do país também o fizeram - estudo sobre Preconceito nas Escolas, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, com estudantes, seus familiares e funcionários de escolas públicas, a pedido do Ministério da Educação.
A FIPE informa ter entrevistado 18.599 pessoas, entre colegiais a partir dos 14 anos de idade, professores, diretores e funcionários de escolas, pais e mães de alunos de 501 educandários em 26 estados e no Distrito Federal.
A maior parte (83,8%) das atitudes preconceituosas e de discriminação no ambiente escolar é explicada pela formação dos próprios alunos. Nada menos que 99,3% dos entrevistados, entre pais, alunos e funcionários de escolas, têm algum nível de preconceito.
Outros dados importantes: escolas com maiores índices de intolerância têm desempenho escolar menor; alunos religiosos são mais intransigentes em relação a gays; o preconceito vem de casa, da formação familiar.
Foram analisados convencionalismos de diversas naturezas: racial, sócio-econômico, de gênero, de orientação sexual, geracional (com relação a idosos), territorial e afetos a pessoas com necessidades especiais (física e mental). Alunos negros (19%), seguidos de pobres (18,2%) e homossexuais (17,4%) são os que mais sofrem discriminação nas escolas.
Os resultados da pesquisa serão analisados pelo MEC para instruir políticas educacionais adequadas. O trabalho despertou minha atenção porque nasci num município do interior de Minas Gerais (Leopoldina) que, no fim do segundo reinado, mercê de sua vocação cafeeira, deteve o maior contingente de trabalhadores negros, do Estado. Isto resultou numa cidade onde indivíduos que se dizem brancos talvez não estejam em maioria.
Não obstante e desastradamente, há 50 anos atrás, no único colégio secundário existente, no qual estudei, não havia aluno de cor. O colégio era particular. Ou seja, colégio “para quem podia pagar”... As escolas públicas ministravam apenas o primário.
Também na vida comunitária, com a Lei Afonso Arinos, de 1951, ainda não assimilada, os clubes sociais admitiam sócios pelos critérios subjetivos da classe social e da cor da pele. Situação, aliás, que não seria diferente por esse Brasil afora. Gilberto Freyre anota que nossa cultura colonial classificava os indivíduos segundo a natureza nobre ou plebéia de suas atividades laborativas. Trabalhar com os braços, uma infâmia!
Nenhuma indignidade, entretanto, no adoçar o lanche matinal com o açúcar milagroso dos canaviais malditos - dos cortadores de cana estropiados pela canícula; nenhuma desonra enriquecer-se com o ouro das minas generalizadas - do operário morto na silicose e na tísica; nula ignomínia no saborear e exportar cafezinho aromático - fruto das lavouras servilmente cultivadas pelo obreiro não remunerado.
Felizmente, dos anos 60 para cá a sociedade tornou-se menos injusta. Multiplicaram-se as escolas públicas e os clubes sociais substituíram porteiros opináticos por uma roleta daltônica, adepta do cristianismo. Filho de Deus entra.
Hoje, rodando por minha cidade, chego a diminuir a marcha do carro para esticar felicidade quando passo em frente ao colégio (agora, público) onde estudei nos anos 50 e onde só tive colegas brancos. Contemplo com ternura nos olhos, que aquelas crianças jamais entenderiam, o mar de meninos e meninas uniformizados, felizes, de todas as classes sociais, de todas as raças, principalmente da belíssima raça brasileira!
Essa pesquisa da FIPE, entretanto, está a nos dizer que nem tudo são flores. O preconceito é uma erva daninha traiçoeira. Por mais que a gente esfole a miserável com os sapatos, uma capina de vez em quando tem que ser feita.
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(Publicada em 02.07.2009 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
domingo, 26 de julho de 2009
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