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Outubro, 2011
Não sei se foi o primeiro a descobrir, mas Guimarães Rosa disse que “viver é muito perigoso” e que “viver é aprender a viver”. Se assim é, nós, os de vida rodada, não devemos nos fechar aos bons conselhos. Sempre se tira algum proveito deles. Principalmente nesse Brasil “dificultoso” onde tem muito sabichão querendo passar os outros para trás. Olho vivo neles! Mesmo a televisão, sempre estrepitosa em anúncios de “ganhos fáceis”, ontem alertava para investidas inescrupulosas às rendas dos aposentados.
Portanto, companheiros jubilados da idade provecta , não sejamos presas ingênuas nas mãos de gananciosos. Cuidado com ofertas de crédito consignável em folha de pagamento; aqueles empréstimos ou financiamentos cujas prestações serão descontadas dos proventos de sua aposentadoria. Não interessa se quem oferece a “facilidade” é um Banco, uma Financeira, ou uma Loja Comercial... Desconfie mineiramente! Quase sempre é bom para eles; e, para você, uma fria.
A agiotagem instituída detesta verbalizar a taxa de juros em que empresta o dinheiro. Ou, quando o faz, omite que os “juros baixos” apregoados, serão “juros compostos”, ou seja, calculados sobre o saldo devedor e lançados, mensalmente, para que você pague juros-sobre-juros...
-É “rúim” de dizerem isto, hem!
Desconfiar, sempre, do fácil e do barato. Milton Friedman, economista de olho limpo, que viveu 88 anos no século passado e mais 6 anos no atual, declarou que “não existe refeição gratuita”. De uma forma ou de outra a conta sempre chega porque nada cai do céu. Portanto, se as coisas têm preço, confira! Os profissionais da usura estão ai mesmo para realizar ganhos em cima dos distraídos.
Quem recebe através de Banco vive assediado com oferta de empréstimos: haja ouvido para o telemarketing, haja paciência para o lixo postal. Oferecem créditos em conta-corrente, direto no Caixa Eletrônico, Cartões de Crédito, viagens a prazo, os cambaus. O importante para eles é que façamos dívidas. Querem juros, taxas, spreads...
Quando o governo decide “aquecer o mercado” com facilidades no crédito pessoal, está utilizando um instrumento de política econômica, teoricamente legítimo. Entretanto, se numa ponta incrementa vendas, beneficiando o comércio e a indústria, na outra pode levar o drama pessoal a consumidores menos avisados – ainda que lhes propicie alegria no primeiro instante. Um raciocínio simples e equivocado leva as pessoas a supor que se as prestações mensais cabem nos proventos está ali a melhor forma de realizar passeios caros, consumir produtos do apelo midiático, trocar de carro, etc. A onerosidade da aventura é secundária.
Experimentem conferir “empréstimos pessoais” no Google. Temos lá ofertas com taxas ditas “baixíssimas”, 2%, 2,5% , ao mês, por aí. Parece pechincha, não é? Mas calcule um empréstimo de 100 mil reais, por exemplo, a 2,5% ao mês. A juros compostos, já no primeiro mês o emprestador aumentará o saldo da dívida em R$2.500,00! No mês seguinte, outro lançamento de juros; e mais outro, e mais outro...
Se a necessidade do dinheiro é premente, tudo bem. Convém, mesmo assim, “simular” o negócio para se ter uma ideia concreta da extensão do compromisso. Mesmo diante de instituições sérias, nunca ficar no plano das abstrações. Os emprestadores costumam dar muita ênfase à rapidez e à dispensa de cadastro limpo. Claro! Você vai autorizar o desconto na sua folha de pagamento! O lado deles está garantido.
Agora, se você já caiu no alçapão, amigo aposentado, talvez convenha procurar um advogado. O novo Código Civil Brasileiro não dá guarida à má-fé nas contratações. Todo contrato oneroso além do razoável pode ser discutido num processo: prove ao juiz que você não foi suficientemente informado da encrenca em que se metia (quase nunca se é) e sua chance de não pagar a parte extorsiva da dívida será grande.
Nada de ter vergonha. Se o agiota (travestido de Banco, Financeira, Casa Comercial, ou o que for) foi suficientemente astuto para pegar você pelo pé, seja esperto o bastante para não aceitar passivamente a extorsão.
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(Publicado em 13.10.2011 em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena)
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
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