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Outubro, 2011
Sou mineiro um tanto ou quanto devagar. Ainda não conhecia a “Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves”, que o nosso ex-governador, Aécio – aliás, tão (ou mais) acariocado quanto eu – inaugurou em 2010. Estive em Beagá neste fim de semana e fui lá conferir.
É um baita conjunto arquitetônico, projetado por Oscar Niemeyer para sediar o Governo de Minas. A bem dizer, a décima quarta obra do famoso arquiteto a enfeitar Belo Horizonte, desde o conjunto arquitetônico da Pampulha, projetado nos anos 40 e principal cartão postal da cidade.
Não é que agora, setenta anos depois e com 102 anos de idade, Niemeyer resolve despachar para o primeiro mundo das maravilhas também a área norte de Belo Horizonte, cometendo ali a prodigiosa Cidade Administrativa mineira, com o Palácio Tiradentes ao centro, o maior prédio suspenso do mundo!
Do conjunto faz parte, ainda, dois edifícios, o Minas e o Gerais – confesso que achei esses nomes meio brincalhões, meio dupla sertaneja, mas deixa pra lá – sede de dezoito secretarias e vinte e cinco órgãos públicos, antes distribuídos em dezenas de endereços espalhados pela capital, centralizando a gestão, segundo dizem com grande economia de dinheiro público.
Nota dez até na ecologia do projeto: as águas da chuva escorrem para os dois lagos artificiais da parte externa do conjunto e servem para irrigar os jardins do entorno. Não se desperdiça água tratada.
Gostei muito de “conhecer pessoalmente” a portentosa sede do governo do meu Estado. Só uma particularidadezinha me fez filosofar de boteco. Caminhando pela sinuosidade dos jardins externos, e mesmo sem a certeza de que também eles sejam traços do grande Oscar, lembrei-me da conhecida declaração de amor de Niemeyer à linha curva: “Amo a linha curva, livre e sensual. A linha que encontro nos rios e montes de meu país, nas nuvens do céu, nas ondas do mar, no corpo da mulher amada (...) Das curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”.
São, de fato, curvas todas as alamedas que circundam a “CAMG” - Cidade Administrativa de Minas Gerais. Do estacionamento ao Palácio, curvas. Do Palácio aos edifícios administrativos, curvas. Do estacionamento a esses, curvas. Para contornar o lago, curvas... Claro, uma beleza diante da qual também temos que nos curvar.
O problema é que na hora de caminhar sob a canícula do verão, os funcionários públicos mineiros acabam rendendo tributo indevido ao arquiteto franco-suíço, Le Corbusier que, ao contrário nosso Niemeyer, amava a linha reta. Constroem atalhos sobre a grama com a sola dos sapatos...
Achei um pouquinho irônico isto, mas nada demais. É só colocar umas lajotinhas ali, na rota dos apressados, que a grama cresce de novo. Interessa é que o projeto arquitetônico é bonito que só vendo. Né por sê mineiro, não.
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE e, aos 20.10.2011, em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena)
sábado, 22 de outubro de 2011
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O que ouvi como queixa do pessoal de BH é que o lugar é muito longe e os funcionários sofreram com isso.
ResponderExcluirDe fato, Teófilo, no funcionalismo a insatisfação é grande: a distância é enorme e exigiria transporte mais adequado, mais civilizado.
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