domingo, 27 de junho de 2010
O Milagre da Copa
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Foto: Moses Mabhida Stadium, Durban, África do Sul
A África do Sul jamais será a mesma no imaginário das pessoas. De repente um país não muito exposto internacionalmente é revelado ao mundo, pela TV, na imagem de um povo alegre e bom a esbanjar simpatia, essa percepção magnética em que as almas se identificam.
É a primeira Copa do Mundo na África, inundando os lares globais em cores, danças e sorrisos de uma gente bonita com sua rica diversidade étnica e cultural.
O futebol é esporte que suscita reações apaixonadas. Torcer com serenidade nem sempre acontece. Mas os africanos do sul, se ainda não são mestres na arte futebolística, mostram-se campeões do fair-play. Tanto os atletas quanto o público.
Na última terça-feira, vimos que a festa da torcida continuou, no Free State Stadium, da cidade de Bloemfontein, mesmo diante da desclassificação dos Bafana Bafana (Denominação da Seleção Sul Africana), na inútil vitória sobre a França. Continuou a festa nas arquibancadas e do lado de fora do estádio.
Sem dúvida um momento de triunfo da velha máxima, o importante não é vencer, é participar, erroneamente atribuída ao Barão de Coubertain, criador das olimpíadas modernas. Em verdade, consta a frase ter sido dita pelo bispo da Pensilvânia, em exortação aos atletas que competiram nas Olimpíadas de Londres, em 1908.
Assim deve ser entre povos civilizados. Assim vimos que aconteceu na civilizada África do Sul.
Na preocupação geral, nervosa, com o horário dos jogos, às vezes penso que mais de quinhentos anos se passaram e, de novo, as atenções do mundo voltaram a apontar na direção do “Cabo das Tormentas”. Não mais agora por obra do desafio incógnito das vagas aos épicos navegadores dantanho. Mas pelo magnífico espetáculo, em terra firme, com que se apresentam ao mundo os sul africanos nesta festa do futebol mundial.
Até bem pouco, não se tinha mais que Johanesburgo, Cidade do Cabo e Pretória, como referências distantes dessa grande nação meridional. Imagens extraordinárias nos introduzem agora a Durban, Port Elizabeth, Nelspruit, Rustenburg, Polokwane e Bloemfontein, esta última, aliás, com o poético significado de "fonte das flores", nas línguas africâner e neerlandês - dois, dos muitos idiomas oficiais do país.
Sem dúvida, a pátria de Nelson Mandela, do bispo Desmond Tutu, de Thabo Mbeki e do cirurgião, pioneiro dos transplantes cardíacos, Christian Barnard, passa, com todos os méritos, ao chamado mundo moderno. Seja pelo cenário cosmopolita de suas principais cidades, pela arquitetura deslumbrante de seus estádios, mas, sobretudo, pelo entusiasmo aceso e civilizado de seu povo.
Já se vê, o futebol pode mais que unir pessoas ao redor do mundo. O futebol é também capaz de desmoralizar preconceitos, afirmar realidades, superar equívocos. Antes mesmo do fim do torneio, ele insere a África do Sul no concerto das nações evoluídas, mesmo não se podendo negar o muito que por lá ainda reclame avanço em educação, saúde, combate à criminalidade e à corrupção. Problemas, aliás, presentes em estados mais prósperos.
O futebol é capaz de “dar um tempo” na dura realidade da vida, capaz de convidar à dança e à festa, porque, afinal, a felicidade é às vezes o esquecimento da dor.
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(Publicada em 24.06.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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