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Julho, 2007
Uma talvez equivocada procura de paz há tempos vem trazendo para cidades do interior de Minas alguns exilados do medo, gente assustada com a chamada falta de segurança nos grandes centros. Falta percepção de que também por aqui os muros vão ficando baixos.
Falar, por exemplo, de drogas ou furtos em residências neste nosso antes tranqüilo interior, é dramatizar banalidades. Alinhavar reclamações e conceitos pessimistas não adianta. Sabemos que a classe média brasileira - e nela entramos nós - sob certa óptica não de todo desprezível, é beneficiária de uma ordem político-jurídica que funciona para protegê-la da indigência social pela qual ela própria é responsável.
Portanto não é o caso de resolver a violência urbana apenas com polícia. Importa assumir que vivemos num país detentor de uma enorme dívida social, sempre rolada e nunca paga, já agora com as vítimas da modernidade em aberto exercício de contra-violência, fora de controle nos grandes centros e em rápida expansão para o interior. É o revide dos aculturados, dos empobrecidos, dos embrutecidos, dos não inseridos nas oportunidades sociais, dos perdedores da guerra econômica. Dos socorridos no tráfico.
É a partir desse pressuposto que muito me compadeço do purgatório em que cresce grande parte da juventude brasileira, julgando-me, como cidadão, no dever de participar da busca de caminhos para ques-tão tão crucial.
Não faz muito, circulou na Internet argumentos interessantes sobre as razões subjacentes à pobreza e à riqueza das nações. O texto especulava a razão da existência de países ricos e pobres. Com fartura de exemplos oferecia prova de que o diferencial não estaria na idade das nações.
Julho, 2007
Uma talvez equivocada procura de paz há tempos vem trazendo para cidades do interior de Minas alguns exilados do medo, gente assustada com a chamada falta de segurança nos grandes centros. Falta percepção de que também por aqui os muros vão ficando baixos.
Falar, por exemplo, de drogas ou furtos em residências neste nosso antes tranqüilo interior, é dramatizar banalidades. Alinhavar reclamações e conceitos pessimistas não adianta. Sabemos que a classe média brasileira - e nela entramos nós - sob certa óptica não de todo desprezível, é beneficiária de uma ordem político-jurídica que funciona para protegê-la da indigência social pela qual ela própria é responsável.
Portanto não é o caso de resolver a violência urbana apenas com polícia. Importa assumir que vivemos num país detentor de uma enorme dívida social, sempre rolada e nunca paga, já agora com as vítimas da modernidade em aberto exercício de contra-violência, fora de controle nos grandes centros e em rápida expansão para o interior. É o revide dos aculturados, dos empobrecidos, dos embrutecidos, dos não inseridos nas oportunidades sociais, dos perdedores da guerra econômica. Dos socorridos no tráfico.
É a partir desse pressuposto que muito me compadeço do purgatório em que cresce grande parte da juventude brasileira, julgando-me, como cidadão, no dever de participar da busca de caminhos para ques-tão tão crucial.
Não faz muito, circulou na Internet argumentos interessantes sobre as razões subjacentes à pobreza e à riqueza das nações. O texto especulava a razão da existência de países ricos e pobres. Com fartura de exemplos oferecia prova de que o diferencial não estaria na idade das nações.
O Egito dos faraós e a Índia milenar seriam dois casos de culturas antiquíssimas que ostentam hoje contingentes populacionais significativos vivendo na miséria. Mesmo sendo a Índia considerada potência nuclear, economicamente dada como emergente, uma vida civilizada e higiênica passa longe de milhões de indianos.
De outro lado, Austrália e Nova Zelândia, países com pouco mais de cem anos, tornaram-se desenvolvidos e ricos.
Grandes extensões territoriais também não assegurariam riqueza a seus habitantes. Nós, brasileiros, apesar dos 8,5 milhões de km2 que nos colocam como o quinto maior país do mundo, pertencemos ao chamado terceiro mundo e, dentre os quatro maiores que nós, apenas USA e Canadá são desenvolvidos. Rússia e China enfrentam mais problemas que soluções. E, por favor, não me venham falar da riqueza da China, outro país que não vê no horizonte o dia em que propiciará condições humanas a um bilhão de chineses.
O Japão, potência econômica destacada, tem território muito pequeno (373 mil km2) com 84% dele tomado por montanhas e rochas vulcânicas - terras difíceis para agricultura e pecuária. Parco em recursos minerais, enfrenta terremotos, erupções vulcânicas, tufões e maremotos, mas é uma ilha altamente industrializada, agregando valor a matérias primas importadas e gerando produtos industrializados de altíssima qualidade.
Fartura de recursos naturais disponíveis, por igual, não explicaria a diferença entre ricos e pobres. Os árabes trotam sofridos camelos sobre as maiores reservas petrolíferas do mundo e, em alguns países africanos, atolados na mais cava indigência, há ouro e diamantes.
O Brasil tem Minas Gerais, Carajás, Serra Pelada, Bacia de Campos, invejável potencial hidroelétrico, terras agricultáveis, maravilhosos 7.367 km de costa atlântica e nosso progresso, não de todo inexistente, se socorre no ilusionismo do marketing político. Adotamos diante do mundo uma atitude pueril de nouveau riche a reclamar reconhecimentos por antecipação.
A pequena, porém abastada, Suíça não precisa de mar para ter uma das maiores frotas mercantes do mundo. Também não tem cacau, mas produz o melhor chocolate do planeta. É campeã européia dos laticínios, ordenhando vacas e ovelhas em acanhados vales alpinos, desenvolvendo ainda uma agricultura modelar nos únicos quatro meses do ano que inverno permite. Geografia desfavorável e recursos naturais quase inexistentes não prejudicam a imagem de segurança e confiabilidade que fez da Suíça uma espécie de Caixa Forte do mundo. Assim também a Bélgica, a Suécia.
A inteligência do povo? Existiriam povos mais bem dotados para ao sucesso? De novo, as evidências negam. Nesse mundo de intercâmbio diuturno, a cada instante se confere no contato com estudantes, executivos e cientistas estrangeiros que não há vantagem intelectual perceptível entre as diferentes nacionalidades e raças. Ao contrário, o que ocorre é migração de talentos das nações pobres para as nações ricas. Os países ricos “importam cérebros” (cientistas) dos países pobres, atraindo-os com bons salários e melhores condições de trabalho.
Neste passo, e bem antes da exaustão dos exemplos, chega-se à educação como a verdadeira diferença que vai influir no sucesso de uma nacionalidade. Pena que educação não caia do céu. Somos nós, cidadãos da classe média, herdeiros e beneficiários de uma sociedade escravista e patrimonialista na qual se posicionaram melhor nossos antepassados, os responsáveis pelo ônus da educação do nosso povo, por incutir-lhe valores sociais, éticos e morais, noções de cidadania e educação.
Responsáveis também, em regime de urgência/urgentíssima, por promover um franco aperfeiçoamento desta democracia incipiente, viciada e corrupta, atrelada a currais eleitorais e à compra de votos, para que ela passe a produzir homens públicos que encarem o ser humano como pessoa, não como simples e alienado eleitor. Que ajudem os que nada têm a adquirir capacitação profissional, a conquistar emprego, auto-estima, instrução, a ter saúde e a estar em paz com a esperança.
Para que todos os marginalizados de hoje se transformem em verdadeiros cidadãos participativos de amanhã, autênticos sujeitos da história deste país. Quando isto acontecer o resto virá por acréscimo porque o ser humano é, ao mesmo tempo, a riqueza e a chave de toda riqueza.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado na Gazeta de Leopoldina, e no Jornal Recomeço, em 08.12.2007:
http://www.nossacasa.net/recomeco/0029.htm) e em
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/ aos 24.12.2009)
De outro lado, Austrália e Nova Zelândia, países com pouco mais de cem anos, tornaram-se desenvolvidos e ricos.
Grandes extensões territoriais também não assegurariam riqueza a seus habitantes. Nós, brasileiros, apesar dos 8,5 milhões de km2 que nos colocam como o quinto maior país do mundo, pertencemos ao chamado terceiro mundo e, dentre os quatro maiores que nós, apenas USA e Canadá são desenvolvidos. Rússia e China enfrentam mais problemas que soluções. E, por favor, não me venham falar da riqueza da China, outro país que não vê no horizonte o dia em que propiciará condições humanas a um bilhão de chineses.
O Japão, potência econômica destacada, tem território muito pequeno (373 mil km2) com 84% dele tomado por montanhas e rochas vulcânicas - terras difíceis para agricultura e pecuária. Parco em recursos minerais, enfrenta terremotos, erupções vulcânicas, tufões e maremotos, mas é uma ilha altamente industrializada, agregando valor a matérias primas importadas e gerando produtos industrializados de altíssima qualidade.
Fartura de recursos naturais disponíveis, por igual, não explicaria a diferença entre ricos e pobres. Os árabes trotam sofridos camelos sobre as maiores reservas petrolíferas do mundo e, em alguns países africanos, atolados na mais cava indigência, há ouro e diamantes.
O Brasil tem Minas Gerais, Carajás, Serra Pelada, Bacia de Campos, invejável potencial hidroelétrico, terras agricultáveis, maravilhosos 7.367 km de costa atlântica e nosso progresso, não de todo inexistente, se socorre no ilusionismo do marketing político. Adotamos diante do mundo uma atitude pueril de nouveau riche a reclamar reconhecimentos por antecipação.
A pequena, porém abastada, Suíça não precisa de mar para ter uma das maiores frotas mercantes do mundo. Também não tem cacau, mas produz o melhor chocolate do planeta. É campeã européia dos laticínios, ordenhando vacas e ovelhas em acanhados vales alpinos, desenvolvendo ainda uma agricultura modelar nos únicos quatro meses do ano que inverno permite. Geografia desfavorável e recursos naturais quase inexistentes não prejudicam a imagem de segurança e confiabilidade que fez da Suíça uma espécie de Caixa Forte do mundo. Assim também a Bélgica, a Suécia.
A inteligência do povo? Existiriam povos mais bem dotados para ao sucesso? De novo, as evidências negam. Nesse mundo de intercâmbio diuturno, a cada instante se confere no contato com estudantes, executivos e cientistas estrangeiros que não há vantagem intelectual perceptível entre as diferentes nacionalidades e raças. Ao contrário, o que ocorre é migração de talentos das nações pobres para as nações ricas. Os países ricos “importam cérebros” (cientistas) dos países pobres, atraindo-os com bons salários e melhores condições de trabalho.
Neste passo, e bem antes da exaustão dos exemplos, chega-se à educação como a verdadeira diferença que vai influir no sucesso de uma nacionalidade. Pena que educação não caia do céu. Somos nós, cidadãos da classe média, herdeiros e beneficiários de uma sociedade escravista e patrimonialista na qual se posicionaram melhor nossos antepassados, os responsáveis pelo ônus da educação do nosso povo, por incutir-lhe valores sociais, éticos e morais, noções de cidadania e educação.
Responsáveis também, em regime de urgência/urgentíssima, por promover um franco aperfeiçoamento desta democracia incipiente, viciada e corrupta, atrelada a currais eleitorais e à compra de votos, para que ela passe a produzir homens públicos que encarem o ser humano como pessoa, não como simples e alienado eleitor. Que ajudem os que nada têm a adquirir capacitação profissional, a conquistar emprego, auto-estima, instrução, a ter saúde e a estar em paz com a esperança.
Para que todos os marginalizados de hoje se transformem em verdadeiros cidadãos participativos de amanhã, autênticos sujeitos da história deste país. Quando isto acontecer o resto virá por acréscimo porque o ser humano é, ao mesmo tempo, a riqueza e a chave de toda riqueza.
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(Publicado na Gazeta de Leopoldina, e no Jornal Recomeço, em 08.12.2007:
http://www.nossacasa.net/recomeco/0029.htm) e em
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/ aos 24.12.2009)
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