Julho, 2011
Prezado Xeike, antes de tudo perdoe-me, pessoa comum, cidadão do
povo que jamais o viu pessoalmente, vir ocupar o tempo de tão nobre soberano
com a presente missiva. É o preço que pagas pela fama, circunstâncias de uma
escolha que foi tua. Não chegarei, entretanto, à inconveniência. Serei breve. A
ideia de escrever-te ocorreu-me ontem, quando subia a escada rolante do
Shopping Center Leblon, no Rio de Janeiro.
Imagine você, Xeike preclaro, que em sentido contrário descia pela escada da direita uma garota lindíssima que até acredito protagonista de novela da Globo. O traje que ostentava deu-me supor que a criaturinha saísse de uma dessas academias de ginástica. Templos da sensualidade, onde mulheres malham ferro frio para dinamizar volúpia nas pernas, nos braços, na face, no pescoço, no tórax, nos seios, na barriga, no bumbum, nos músculos do períneo, nas pernas − sabido, como você não ignora, que entre os cabelos e as unhas dos pés de uma linda mulher tudo é poema erótico.
Pois bem, ó empelicado nascituro das Gerais, você que milita nas exatas sabe que escada rolante ascendente passa pela descendente com o dobro da própria velocidade. O lapso fugaz desse cruzamento não me impediu, todavia, de contemplar os múltiplos encantos da divinal moçoila, não me escapando também o gesto indisfarçável de sua natural repulsa ao meu deslumbrado olhar. Idade repulsiva, a minha, entende?
Buscava eu naquele Shopping nada mais que um par de tênis de amortecer impactos na artrose que me infelicita o joelho, e pensei com minhas abotoaduras:
– Como é chato ficar velho! Que bênção – conjecturava – se nós os
coroas já pudéssemos dispor dos benefícios das células-tronco na reposição de
órgãos e segmentos decrépitos. O que eu não daria por minha pele da juventude e
pela cartilagem recondicionada dos meus joelhos!
Fui bonitão – entende, Xeike. Meninas como aquela jamais me torceram o nariz daquele jeito. Só que os anos danificam poderosamente o invólucro de nossa alma juvenil! Principalmente as exterioridades de pessoas muito claras como tu e eu. É quando chego ao objeto desta carta:
Simpático e ainda guapo, Xeike. Tu tens dinheiro a dar com o pé. Pense com carinho no teu futuro e coloque grana alta nas pesquisas de células-tronco. Não te falta criatividade e sensibilidade para projetos arrojados. Escolha, no hemisfério norte, um país ponteiro nesses estudos e despeje grana de responsa nas pesquisas
É certíssimo que no médio prazo, ó Emir dos argutos, o ser humano terá pele, coração, fígado, rins, próstata e cérebro renováveis. Chegará fácil, e na ponta dos cascos, aos cento e cinquenta anos de idade. Não consigo imaginar “nicho de mercado” mais promissor no horizonte empresarial.
Espanta-me, por isto, semelhante eldorado fora do teu portfólio.
Corre lá, cara, coloque tuas fichas no jogo. Se a coisa está pra chegar, que
chegue logo para nós dois.
¬ Qual a graça de vir para os nossos netos?
Esquece pré-sal, esquece vender montanhas de ferro pra asiático “agregar valor” e nos devolver automóveis que já não cabem nas ruas e nas estradas. Dizem que em tuas empresas “o sucesso anda de Porsche”. Acelera por nós, amigão!
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(Publicado em 28.07.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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