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sábado, 4 de dezembro de 2010

O Estado Chegou

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Dezembro, 2010


 Bom, se a invasão das duas maiores favelas do Rio virar fogo de palha e voltar tudo ao que era antes, o problema não será meu, por conta dos elogios que no momento tenho àquelas ações.

Dizem que o futuro a Deus pertence, mas no caso da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, imagino pertencer também ao projeto político do governador Sérgio Cabral, que, aliás, não deve ter outra coisa em mente que realizar um governo sério no Estado do Rio. Com Lula e Aécio no horizonte federal − sem descartar a hipótese de sucesso do governo Dilma − o melhor que o governador do Rio tem a fazer, hoje, é ir dando o melhor de si para ver o que acontece lá na frente.

Deixemos, entretanto, o macro para focar o micro. Episódios que me emocionaram na ocupação dos dois enormes conglomerados humanos, do Rio, foram a entrega à polícia de dois bandidos pelos próprios pais. Aqueles gestos nos deram a medida exata do quanto é fundamental para as pessoas a presença da autoridade constituída, e, ao contrário, o desastre que representa a ausência dessa mesma autoridade num determinado local.

Palavras da mãe que, no Complexo do Alemão, primeiro entregou seu filho, traficante, à prisão:
 – Aproveitei a oportunidade porque nunca aceitei meu filho nessa vida!
Ou seja, ela aproveitou que o “império da lei” – que nunca estivera por ali - chegasse às imediações de sua casa para fazer o que sempre sonhou para o filho: tentar tirá-lo do inferno do tráfico.

O mesmo se daria no dia seguinte. Um homem trabalhador, bombeiro e eletricista, de 55 anos, também morador do Complexo do Alemão, pegou o filho de 25, que se alojara na casa de uma vizinha, e o entregou às autoridades. Disse à imprensa:
–Agradeço ao BOPE por ter pego meu filho vivo. Ele tem que pagar pelo que fez.

Pode-se duvidar de tudo, menos que esse rapaz tenha um pai. Difícil, até, compreender que filho de um homem com semelhantes princípios morais haja escolhido o caminho do erro. Só não se corrige se não quiser. Pai ele tem. 

Vejam que nem aquele pai, nem aquela mãe, jamais aceitaram os filhos no mundo do crime. Salvá-los, todavia, sempre esteve fora do alcance de suas mãos porque o Estado, que à educação e ao direito provê, mantinha-se distante e omisso.

De repente, eis que “a lei”, escoltada por tanques de guerra, chega às suas portas, sob aplausos e cooperação da comunidade! No coração daquela mãe, no coração daquele pai, dois moços incontroláveis, contumazes em decepcioná-los, voltam a ser crianças tomadas pelas mesmas mãos que, carinhosamente, os colocaram de pé. Pais acreditam, sempre. Basta uma chance mínima para que o desencanto logo ceda lugar à esperança.

A tomada do Complexo do Alemão, acompanhada ao vivo pela TV, foi um alívio para toda a enorme população da área, da cidade e do país. Vem sendo objetivo estratégico da Secretaria de Segurança do Rio conquistar territórios ao tráfico, sempre com o menor número possível de baixas inocentes e protagonistas.

Na ação desta semana o êxito foi total. Houve quem desejasse ver metralhados os marginais que escapavam pelo morro. Grande equívoco! Matar bandido não resolve. A sociedade licenciosa e o vácuo de autoridade providenciam outros. Polícia sempre matou bandido e isto nunca levou a lugar algum. Jovens desencaminhados são produtos de uma realidade complexa que reclama educação e presença estatal.

Tráfico, bandidos, usuários de drogas e pessoas de bem sempre existiram e sempre existirão. Faz sentido que neste tumultuado contexto inicial, quando já se vai colocando a casa em ordem, as forças do Estado, agindo sempre dentro da lei, deixem muito claro quem deve respeito a quem.

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(Publicado em 02.11.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

Um comentário:

  1. Realmente passou pela nossa cabeça que metralhar os fugitivos seria a solução do problema, mas sua análise é perfeita.

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