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Dezembro, 2010
Como tem chovido em Minas Gerais, neste início de dezembro, meus amigos! Mesmo com céu limpo pela manhã é bom levar nadadeiras. É cada chuva d`água! À noite, na TV – já viu, né - aquelas imagens de pessoas sofridas, enxurrada arrastando carros e deixando o governo mal na fotografia. Tadim do governo! É sempre o culpado de tudo.
São chuvas de verão. Digo até que é Minas fazendo seu bom trabalho. Não entenderam? Eu explico. Em Minas estão as nascentes do Brasil e não apenas no sentido histórico de que por aqui medraram os primeiros suspiros da nacionalidade, os desconfortos anticoloniais mais relevantes. Falo de uma realidade bem mais concreta, terra-a-terra, como um olho-d`água, um merejo, um brejo, mananciais sinuosos riscando várzeas e desfiladeiros.
Nossas minas generalizadas não são apenas de ferro, ouro, alumínio ou água mineral. Minas é, também, um mundão de água doce. Sim, aquela molhada que despenca dos céus, entre estrondos e coriscos – Santa Bárbara! - desce pelas serras, transborda córregos, riachos, valões, e vai levando tudo para cumprir a sina mineira de ser a caixa d`água do país. Ai do Brasil se não chove em Minas. Querem conferir?
Na Serra da Mantiqueira, num lugarzinho bucólico chamado Bocaina de Minas, nasce o belo e caudaloso Rio Grande, responsável por fazer girar turbinas de uma dúzia de hidrelétricas mineiras. Este utilíssimo rio corre pelo sul de Minas, no sentido leste-oeste e, no Triângulo Mineiro, se presta ainda a separar Minas de São Paulo – só não segurando do lado de lá o sotaque paulista.
Lá na pontinha do Triângulo, se junta a outro grande rio mineiro, o Paranaíba, igualmente rico em hidrelétricas gigantescas, na divisa com Goiás. É verdade: o Paranaíba separa Minas de Goiás, mas também não consegue estancar nas terras do Anhanguera a febre das duplas sertanejas que se alastra pelo país.
Juntos, o Grande e o Paranaíba, formam o Rio Paraná, cujas águas vão girar as rotativas colossais de Itaipu para, bem depois, juntar-se com o Rio Uruguai, virar Rio da Prata e torcer para a Argentina.
Mas a responsabilidade de Minas não fica por aí. No centro do Estado, ali no Campo das Vertentes (região de Barbacena), além de afluentes do citado Rio Grande, de esticado destino para o sul, nascem contribuintes do Rio Doce, cujo destino é o leste do país, chegando ao mar no norte do Espírito Santo. Nasce o Rio Pomba, que é afluente do Rio Paraíba do Sul – este, paulista, nascido em Mogi das Cruzes - que corta toda a Zona da Mata Mineira, abastece a cidade do Rio de Janeiro e chega ao mar nas planícies de Campos dos Goitacazes, no norte do Estado do Rio. Todos eles gerando muita energia e viabilizando riquezas em seus vales históricos e fecundos.
Sempre fui apaixonado pela geografia do Campo das Vertentes. Dali se desce para os longes. Acho um prodígio que a gota de chuva caída à minha direita possa ir à bacia do Prata; a outra gotinha, caída à esquerda, viajará até a foz do São Francisco, no nordeste; caísse um pouquinho mais ao lado, iria ter às costas do Espírito Santo; se o vento tocá-la alguns centímetros, o destino já será o norte do Estado do Rio de Janeiro... Não é maravilhoso?
Convido o leitor a pensar nisto por ocasião do xixi em alguma lanchonete na região de Barbacena. Sinta-se um Napoleão no alto de sua pirâmide a contemplar quarenta séculos...
As chuvas de Minas mandam água ainda para o Rio Jequitinhonha que nasce na região de Diamantina e sai prestando serviço a todo o nordeste mineiro e ao sul da Bahia, indo ter ao mar em Canavieiras. Tem ainda o mineiro Mucuri, outro abastecedor de Minas e Bahia, onde deságua no Atlântico. Minas precisa continuar chovendo para abastecer a bacia do Itabapoana – um rio com compromissos do lado de cá, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
E, por último, não esqueçamos o Velho Chico! Nasce quase no centro-sul do Estado, na Serra da Canastra, atravessa Minas no sentido sul-norte e seus importantíssimos afluentes mineiros são responsáveis por 75% das águas de sua vazão total. Atravessa a Bahia, faz girar, pelo caminho, cinco grandes hidrelétricas, abastece grande parte do nordeste brasileiro, e, muito contra sua vontade de prestar serviço, só entra no mar lá nos confins atlânticos da divisa de Sergipe com Alagoas. O Velho Chico é um milagre brasileiro.
Por isto, mineiro que é mineiro diz “benzo a Deus” à chuva. Não temos grandes problemas de seca, temos 21 das grandes hidrelétricas brasileiras e contamos com mais 252 quedas d`água passíveis de aproveitamento. Se assim é, “por mal não pergunto”:
- Mineiro pode esconjurar tromba d`água?
Ah, mas de jeito maneira, ô sô!
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 09.12.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
Dezembro, 2010
Como tem chovido em Minas Gerais, neste início de dezembro, meus amigos! Mesmo com céu limpo pela manhã é bom levar nadadeiras. É cada chuva d`água! À noite, na TV – já viu, né - aquelas imagens de pessoas sofridas, enxurrada arrastando carros e deixando o governo mal na fotografia. Tadim do governo! É sempre o culpado de tudo.
São chuvas de verão. Digo até que é Minas fazendo seu bom trabalho. Não entenderam? Eu explico. Em Minas estão as nascentes do Brasil e não apenas no sentido histórico de que por aqui medraram os primeiros suspiros da nacionalidade, os desconfortos anticoloniais mais relevantes. Falo de uma realidade bem mais concreta, terra-a-terra, como um olho-d`água, um merejo, um brejo, mananciais sinuosos riscando várzeas e desfiladeiros.
Nossas minas generalizadas não são apenas de ferro, ouro, alumínio ou água mineral. Minas é, também, um mundão de água doce. Sim, aquela molhada que despenca dos céus, entre estrondos e coriscos – Santa Bárbara! - desce pelas serras, transborda córregos, riachos, valões, e vai levando tudo para cumprir a sina mineira de ser a caixa d`água do país. Ai do Brasil se não chove em Minas. Querem conferir?
Na Serra da Mantiqueira, num lugarzinho bucólico chamado Bocaina de Minas, nasce o belo e caudaloso Rio Grande, responsável por fazer girar turbinas de uma dúzia de hidrelétricas mineiras. Este utilíssimo rio corre pelo sul de Minas, no sentido leste-oeste e, no Triângulo Mineiro, se presta ainda a separar Minas de São Paulo – só não segurando do lado de lá o sotaque paulista.
Lá na pontinha do Triângulo, se junta a outro grande rio mineiro, o Paranaíba, igualmente rico em hidrelétricas gigantescas, na divisa com Goiás. É verdade: o Paranaíba separa Minas de Goiás, mas também não consegue estancar nas terras do Anhanguera a febre das duplas sertanejas que se alastra pelo país.
Juntos, o Grande e o Paranaíba, formam o Rio Paraná, cujas águas vão girar as rotativas colossais de Itaipu para, bem depois, juntar-se com o Rio Uruguai, virar Rio da Prata e torcer para a Argentina.
Mas a responsabilidade de Minas não fica por aí. No centro do Estado, ali no Campo das Vertentes (região de Barbacena), além de afluentes do citado Rio Grande, de esticado destino para o sul, nascem contribuintes do Rio Doce, cujo destino é o leste do país, chegando ao mar no norte do Espírito Santo. Nasce o Rio Pomba, que é afluente do Rio Paraíba do Sul – este, paulista, nascido em Mogi das Cruzes - que corta toda a Zona da Mata Mineira, abastece a cidade do Rio de Janeiro e chega ao mar nas planícies de Campos dos Goitacazes, no norte do Estado do Rio. Todos eles gerando muita energia e viabilizando riquezas em seus vales históricos e fecundos.
Sempre fui apaixonado pela geografia do Campo das Vertentes. Dali se desce para os longes. Acho um prodígio que a gota de chuva caída à minha direita possa ir à bacia do Prata; a outra gotinha, caída à esquerda, viajará até a foz do São Francisco, no nordeste; caísse um pouquinho mais ao lado, iria ter às costas do Espírito Santo; se o vento tocá-la alguns centímetros, o destino já será o norte do Estado do Rio de Janeiro... Não é maravilhoso?
Convido o leitor a pensar nisto por ocasião do xixi em alguma lanchonete na região de Barbacena. Sinta-se um Napoleão no alto de sua pirâmide a contemplar quarenta séculos...
As chuvas de Minas mandam água ainda para o Rio Jequitinhonha que nasce na região de Diamantina e sai prestando serviço a todo o nordeste mineiro e ao sul da Bahia, indo ter ao mar em Canavieiras. Tem ainda o mineiro Mucuri, outro abastecedor de Minas e Bahia, onde deságua no Atlântico. Minas precisa continuar chovendo para abastecer a bacia do Itabapoana – um rio com compromissos do lado de cá, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
E, por último, não esqueçamos o Velho Chico! Nasce quase no centro-sul do Estado, na Serra da Canastra, atravessa Minas no sentido sul-norte e seus importantíssimos afluentes mineiros são responsáveis por 75% das águas de sua vazão total. Atravessa a Bahia, faz girar, pelo caminho, cinco grandes hidrelétricas, abastece grande parte do nordeste brasileiro, e, muito contra sua vontade de prestar serviço, só entra no mar lá nos confins atlânticos da divisa de Sergipe com Alagoas. O Velho Chico é um milagre brasileiro.
Por isto, mineiro que é mineiro diz “benzo a Deus” à chuva. Não temos grandes problemas de seca, temos 21 das grandes hidrelétricas brasileiras e contamos com mais 252 quedas d`água passíveis de aproveitamento. Se assim é, “por mal não pergunto”:
- Mineiro pode esconjurar tromba d`água?
Ah, mas de jeito maneira, ô sô!
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(Publicado em 09.12.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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