Outubro, 2010
Completamos hoje setenta Conversas Mineiras neste nobre espaço do Blog da amiga Maria Helena Rubinato. Se querem saber, é prestigio além da conta para as ambições singelas deste escriba genérico. Genérico, sim, e nisto vai a razão de meus reconhecimentos não se limitarem à pessoa de Da. Lenita, amiga dileta que me concede prateleira aos fármacos de precária concepção neste espaço nobre do Globo Online.
Criatura educada que sou, devo louvação também a meu criador, o candidato tucano José Serra, que vive nos lembrando que foi ele, quando Ministro da Saúde de Fernando Henrique, que criou os “Genéricos”, através da Lei 9.787/99. Ouço todos os dias, na TV, ter sido ele o genial inventor dos produtos sem marca. Ou seja, dos remédios “joão ninguém”, dos desprovidos de nome, dos sem eira nem beira, dos “iguali a nóis mermo”...
Sendo assim, “enquanto cronista” reconhecidamente genérico, sou também cria da barriga do Serra. Sei que, portador de afabilidade meio áspera, Serra sempre me negará paternidade dizendo-se não responsável por genérico de fundo de quintal. Caso em que sopitarei minha mágoa no peito sem rancor. Fui criado em fazenda e me lembro que por mais confiável que seja o cavalo ele pode te dar um coice se você tentar montar nele pelo lado errado.
E para que o Genérico que vos fala não seja acusado de parcialidade política, não custa dar merecidos créditos ao ex-deputado Eduardo Jorge, autor do primeiro projeto de lei que “nos” inventou, e ao ex-Ministro da Saúde do Governo Itamar Franco, Jamil Haddad, todos reivindicantes da paternidade dessa linda criança que tão solicitamente atende pelo nome do “princípio ativo”.
Nós, os genéricos da vida, somos na verdade a versão atualizada do velho “brasileiro vira-latas” dos registros sociológicos debochados. Mas temos alguma dignidade. Nossa substância ativa é a mesma dos originais “dazelites” e somos intercambiáveis, ou seja, quando um “faz merda” pode entrar outro igualzinho no lugar.
Não precisamos é perder a pose. Tirando o Pelé, o Guga e a Gisele Bündchen, aquela que quase perdeu o trema antes de casar - todos os três autênticos produtos “de marca” - o que mais tem neste país é genérico dando certo. Até astronauta genérico o Brasil já inventou. Figuraça! E nem falem do escritor Paulo Coelho! Algum dia, no mundo, alguma cultura terá produzido um autor genérico com o sucesso do Paulo Coelho?
Não que a fama dele seja imerecida. Ele merece, amplamente, o renome conquistado, por uma razão óbvia: se fosse fácil escrever como ele escreve dezenas de outros escritores já teriam feito a mesma coisa, não acham? Quem não gosta de dinheiro? Só o Paulo, entretanto, parceiro de Dom Raulzito, tem o mapa e a bossa da mina. Mas que é genérico, é.
O grande campeão dos genéricos brasileiros é, disparado e sem a menor dúvida, o Lula. Longe de crítica ou preconceito, temos que admitir que por mais inteligente e diferenciado que um torneiro mecânico se revele no exercício da política e da presidência de um país como o Brasil, ele será sempre um presidente genérico.
Pode-se até admitir que a história venha fazer ao Lula, no futuro, a justiça que nós, sem a perspectiva do tempo, hoje lhe negamos. Nem assim ele deixará de ser (ou de ter sido) um presidente genérico. Até porque sua carência pessoal de “marca” sempre foi a “pièce de résistance” do marketing que ele mesmo escolheu e usa muito bem.
Outro produto genérico perfeito é Da. Dilma, livre criação laboratorial do chefe. Não ostenta patente registrada e nem ao menos tem fama de ser “boa para” isto ou “boa para” aquilo, como os remédios das comadres. Apenas “anvisam” seus distribuidores que apresenta reação “brônquica” mais severa que os originais do mercado. Sua realidade genérica é atestada por uma tarja vermelha.
Pensando bem, na política brasileira não são poucos os tipos que se enquadram na melhor noção de genérico. Dêem nomes aos burros, à vontade: senador com cabelos pintados; deputado com bigode pintado; ministro com cabelo e bigode pintado. Bota genérico nisto!
Meus nove leitores de um único dígito certamente estão com o nome do Tiririca “debaixo”, ou melhor, na ponta da língua. Pois saibam que eu não classificaria o Tiririca como genérico. Nem mesmo como genérico fabricado no mais profundo quintal de nossa “hermana” república do Paraguai. O Tiririca é outra coisa.
Ele é uma “garrafada” nordestina contra dor de barriga, vendida na feira de Caruaru em embalagem usada de agrotóxico. Como cronista genérico sinto-me desconfortável em compartilhar adjetivo com ele e acho também que, classificado como político genérico, Tiririca resultaria numa afronta à memória do “similar” Clodovil.
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Publ. em 21.10.2010, em
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/
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